Bombeiros que arriscaram a própria vida

. sábado, 12 de maio de 2007
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Fátima Antunes e António Serrano venceram o Prémio Bombeiros Mérito de 2006, atribuído pela Liga dos Bombeiros Portugueses, que os considera “um exemplo” e lhes agradece a dedicação. Ambos protagonizaram salvamentos onde arriscaram a própria vida.
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"PENSEI QUE PODIA FICAR ALI E MORRER"
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Fátima saltou decidida para dentro de uma viatura que caíra em cima das rochas e abanava com o rebentamento das ondas. A seu lado, a condutora, que se despistara, tentava demovê-la: “Vá-se embora. Ainda morre aqui”. Mas Fátima, bombeira há 14 anos nos Voluntários da Ericeira, manteve-se firme e durante umas duas horas, que lhe pareceram meses, pensou na vida: no marido, no filho que completara há pouco um ano... “Pensei que podia ficar ali e morrer.”
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Hoje, passado mais de um ano, sente-se orgulhosa. Ela e os colegas, bombeiros na Ericeira, salvaram a vida de Ana, uma rapariga de 19 anos, que ao volante de uma carrinha Mitsubishi L300 se despistou, na madrugada do dia 20 de Março de 2006, e foi cair à praia da Ribeira d’Ilhas.
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Ela, Fátima, socorreu Ana enquanto os colegas tentaram estabilizar a viatura. Ela, Fátima, entrou na viatura que corria o risco de ser engolida pela maré e agora viu ser-lhe reconhecido o esforço com a atribuição do Prémio Bombeiro Mérito de 2006.
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O galardão, atribuído pela Liga dos Bombeiros Portugueses, é o mais ambicionado no sector. E, como tal, Fátima nunca pensou ganhá-lo, sobretudo, num ano que bateu o recorde de inscrições, com 12 candidaturas ao prémio.
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A candidatura de Fátima foi enviada pelo comandante da corporação da Ericeira, José Manuel Pereira, que, pela primeira vez, propôs um elemento seu ao prémio, apesar dos 75 anos que a corporação já leva de vida.
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E a Liga concluiu que “Fátima Antunes interveio com risco da própria vida” e agradeceu-lhe atribuindo-lhe o galardão.
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O marido diz que “ela é uma grande maluca” e que qualquer dia ainda fica sem ela. Os pais, sobretudo a mãe, não têm consciência do risco que a filha corre na profissão que escolheu. “E ainda bem”, diz Fátima.
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“É melhor assim”, reafirma o adjunto do comando, Nuno Silva, que dirigiu as operações de salvamento naquela noite de Março e aconselhou o comandante a candidatar Fátima ao prémio de mérito.
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Hoje, Nuno diz: “Pensei, naquela noite, seriamente, que não saía de lá sem baixas. Que não conseguíamos...”
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Para os colegas “a ‘Fatinha’ é um homem”, pelas capacidades e valentia que tem, alegam, destacando os inúmeros cursos que frequentou com aproveitamento: nadador-salvador, matérias perigosas, socorro, salvamento, combate a incêndios, condução todo-o-terreno...
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DESENCARCERAMENTO
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A viatura caiu de uma ravina e ficou suspensa nas rochas ao sabor da maré. Lá dentro estava Ana, de 19 anos.
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PERFIL
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Maria de Fátima Ferreira Antunes completa 34 anos no próximo dia 7. Nasceu em Lisboa, mas cedo foi morar para a Ericeira, onde ainda reside na aldeia de Fonte Boa dos Nabos. Casada, é mãe de um menino com dois anos e quatro meses, que adora visitar o quartel e entrar nas viaturas de socorro. Mas “ele será o que quiser”, frisa reconhecendo-lhe já um gosto pela sua profissão.
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Fátima, ‘Fatinha’ para os amigos e colegas, sempre se sentiu atraída pelos bombeiros, nas só ingressou na profissão depois de ter sido despedida de um fábrica de bolos secos que faliu. E o primeiro quartel em que entrou foi o da Ericeira, onde ainda permanece.
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"TRATEI DE TODOS COMO MEUS FILHOS"
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Se há pessoas que nascem com uma vocação, António Serrano é uma delas. Começou a fugir para o quartel dos Bombeiros Voluntários de Soure ainda criança, conquistou o lugar de ‘moço de recados’ até ter idade para ingressar no corpo activo e transformou-se num herói da corporação.
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Aos 34 anos, o homem simples e recatado da aldeia de Simões, concelho de Soure, foi escolhido pela Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) para receber o Prémio Bombeiro Mérito de 2006, em ‘ex-aequo’ com Fátima Antunes.
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“Não contava com uma coisa destas porque foi tudo um trabalho de equipa, mas é um prémio motivante”, referiu ontem António Serrano ao CM, recusando ficar sozinho com os louros da distinção.
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No anúncio da atribuição do prémio, a Liga realça o altruísmo do bombeiro de 1.ª classe, ao pôr em risco a própria vida para assegurar a evacuação de 52 crianças e de dois adultos de um autocarro escolar que estava a ser arrastado por uma enxurrada, em Outubro de 2006.
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Na viatura seguia o seu filho, mas António Serrano agiu “com elevado sentido de dever, sem cuidar de salvar ou exigir que o salvassem em primeiro lugar”, refere a LBP. “Só fiz o que tinha de fazer. Era injusto tirar o meu filho em primeiro lugar. Por isso, olhei a todos como se fossem meus filhos”, afirma o bombeiro.
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António Serrano fez parte da primeira equipa de socorro e já sabia que o filho, de 11 anos, estava dentro do autocarro porque tinha estado em contacto telefónico com ele. Mas, em vez de dar preferência ao seu único descendente, aproveitou o contacto por telefone para lhe dar instruções tranquilizadoras. “Nós éramos muitos e, apesar do perigo, estávamos a actuar com confiança. Disse-lhe para não ter medo e para acalmar os colegas.” Os estudantes mais novos foram os primeiros a ser retirados pela parte traseira da viatura “e o meu foi para aí o nono ou o décimo a sair”, recorda o novo herói de Soure.
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Atento à atitude filantrópica do seu operacional, o comandante da corporação, Carlos Luís, elaborou um relatório da acção de salvamento e enviou-o à Liga. E o prémio chegou. “É o reconhecimento do nosso trabalho”, diz o comandante.
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Quando receber o galardão, a 26 de Maio, no Casino Estoril, António Serrano ainda não sabe a quem o vai dedicar ou se vai discursar. O que sabe é que continuará a agir com abnegação para poder ajudar o próximo em todas as missões.
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ENXURRADA
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O autocarro escolar despistou-se e foi arrastado pela água. O resgate das 52 crianças e dois adultos foi difícil e arriscado.
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PERFIL
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António José Dionísio Gonçalves Serrano, de 34 anos, nasceu em Soure, é casado e tem um filho de 11 anos. Estudou até ao 9.º ano e nos tempos livres aproveitava para visitar os amigos no quartel dos Bombeiros Voluntários de Soure. Aos dez anos, como não tinha idade para ingressar na corporação, deixavam-no fazer alguns recados. Em 1989, conseguiu finalmente ser bombeiro. É assalariado e está em regime permanente do quartel. “É o que gosto de fazer e não trocava esta profissão por nada”, diz, sem saber explicar de onde lhe veio a paixão pela actividade dos bombeiros. “O que nos motiva é o comando e a equipa que nos acompanha”, refere.

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